terça-feira, 4 de junho de 2013

A nossa Etica enquanto involuidos que somos -parte 2

Quando o mandamento de Deus diz: "'não matar", quer dizer: "nunca matar ninguém". Mas quando este mandamento desce na terra, na qual é o melhor quem sabe eliminar maior número de inimigos em seu favor, então aquele mandamento se quiser subsistir em tal ambiente, deve deixar algum lugar à lei desse ambiente, e transformar-se, adaptando-se a ele. Na prática, desse modo, o mandamento vem a exprimir-se assim: "não me mates e ajuda-me a matar os meus inimigos". De fato, foi nesse sentido que Moisés não pôde deixar de entender e aplicar aquele mandamento, logo que desceu do monte e encontrou-se frente à realidade da vida. Foi uma espécie de necessidade moral e também espiritual, porque, diversamente  a idolatria sairia vencedora.
Posteriormente, com o desenvolvimento da evolução, a lei do Sistema, fazendo pressão, tornar-se­-á cada vez mais atuável, até os tempos modernos em que se chega quase a condenação das guerras, coisa inconcebível aos tempos de Moisés. Mas foi daquele modo que então se chegou, certamente não por culpa dele, mas da dominante psicologia involuída  a esta conclusão estranha: que, para defender a lei de Deus, foi preciso deixar de aplicá-la. Para tornar válido o mandamento de "não matar", para tornar possível transmiti-lo a outras gerações que, depois, o pudessem aplicar, se fez necessário violá-lo primeiro, matando uma porção de gente.
Assim desde que apareceu pela primeira vez, a lei ética, deve levar em conta a realidade do mundo  A primeira coisa que Moisés teve de demonstrar com fatos ao descer do Sinai foi a inaplicabilidade imediata da lei que proclamara. Para fazê-la descer ao plano humano, para depois educar o homem ensinando -lhe a aplicá-la, Moisés teve, inicialmente, de cair numa contradição, que permanecerá através dos séculos: a de que para poder aplicar a lei que proíbe a força, se usa a força. Para aplicar a lei, se faz justamente o que ela proíbe. Não, é o legislador moralista que mostra a aplicabilidade da lei seguindo-a ele mesmo, em primeiro lugar, e educando com o exemplo. É ele próprio, inicialmente, que prova a inaplicabilidade dela com o fato de não aplicá-la a si quando, exigindo obediência, afirma, com os fatos, o princípio oposto ao da obediência determinada pela lei, isto é, o princípio do próprio mando. Eis aquilo que na ética deve tornar-se, quando desce em um mundo onde o problema fundamental sempre presente é de ser o mais forte e de, assim, impor-se para não ser devorado. Desse modo é que encontramos na Terra uma ética de contradições, pela qual a lei parece dever valer só para os sujeitos que devem ser educados, e não para os educadores, que não ficam obrigados a aplicá-la, embora devessem ser os primeiros a fazê-lo. É uma ética de contradição, porquanto, determinando obediência pratica a dominação. É uma ética de coação, que impõe a ordem pela força das sanções, isto é, faz a paz usando a guerra, quer atingir a não reação usando a reação.
É assim que a ética ensina a não matar, matando; a renunciar, mantendo a posse; a obedecer mandando. O próprio moralista está imerso no plano humano, não consegue colocar-se acima de seus dependentes e com estes, mesmo em nome de altos princípios éticos, desce para a luta no mesmo nível.
Somente Cristo permaneceu em Seu plano mais alto. Somente Cristo praticou a não reação pregada pela ética: Ele não desceu para pactuar com o mundo estabelecendo compromissos. Por isso, porque ele não quis usar a força, o mundo, usando a força, o matou. Se puderam sobreviver, as outras autoridades que se dizem baseadas na ética  foi porque diante da moral pura de Cristo, elas representam uma posição híbrida de comprometimento. Assim, assistimos na Terra ao estranhíssimo espetáculo através do qual, em nome da ética, se proíbe a reação punitiva individual  permitindo-se somente a da autoridade. Esta diz ao indivíduo: "Não usarás mais a violência para defender teus interesses; só eu posso usa-la para defender os meus. Eu, porque sou o chefe, o que venceu como mais forte nego a ti o direito de matar por teus próprios objetivos para usá-lo somente pelos meus fins". Na verdade, o que cada governo faz, lo­go de inicio, é desarmar o cidadão, reprimindo-lhe a violência, para armá-lo contra os próprios inimigos, premiando-lhe com honras a mesma violência.
Na prática, a ética reduz-se a um arrancamento de poderes da massa para poucos dirigentes, fato que se justificaria se feito com finalidades educativas ou para o bem da coletividade, o que nem sempre se verifica, já que, ás vezes, tais poderes po­dem ser usados pelos dirigentes só como vantagem pessoal. Assim a ética constitui a primeira violação de si mesma, porque os homens que a representam, na prática, fazem exatamente o que ela proíbe. Desse modo, os princípios permanecem como teoria e fica no plano humano o fato de que, sobrepondo-se força a força, não se alcança justiça. Enquanto se aceitarem os métodos do mundo, isso não pode ser superado.
 Destarte, quisemos somente explicar o estado de contradição em que se encontra a moral humana, contradição que pode parecer mentira, mas nem sempre é desejada com tal propósito. Ela pode ser aceita com uma necessidade transitória, de adaptação dos princípios superiores às exigências de um mundo inferior  onde também eles devem aplicar-se. De qualquer modo, esta contradição é fatalmente destinada a desaparecer com o progresso evolutivo, destinada a ser corrigida quando os princípios da ética vierem a ser verdadeiramente aplicados em favor da educação do homem, ensinando-lhe a viver num plano de vida mais alto.

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