sexta-feira, 5 de julho de 2013

PORQUE APRENDEMOS PELA DOR E NÃO PELO AMOR

O Evangelho  nos diz claramente e com  sabedoria   que  quando não aprendemos  pelo amor, aprendemos pela  dor.
A dor benfazeja que nos visita por intermédio da doença incurável a nos  açoitar o corpo perecível, que nos prostra no leito,que nos convida à meditação e à transformação tem a finalidade, na maioria das vezes, de abrandar os corações endurecidos que ainda persistem na prática delituosa, fazendo mau uso do patrimônio e dos talentos que  o Senhor Deus nos confiou. Na vida, nada temos de real, a não ser as aquisições das virtudes espirituais, único bem que levamos para a pátria  espiritual. O restante fica para trás, pois nada temos de nosso, tudo nos foi confiado pelo Pai Eterno. Somos apenas usufrutuários dos bens que recebemos, administradores temporários de tudo, inclusive de nossa saúde, de nosso corpo físico, do tempo que dispomos.Infelizmente ainda somos na maioria administradores perdulários e fazemos mau uso de tudo que recebemos por acréscimo de misericórdia do Senhor. Esquecemos que um dia haveremos de prestar  contas do resultado de nossa administração e receber a recompensa ou colher os espinhos resultantes de nossa semeadura invigilante.
Deus  ,nosso Pai Eterno, está sempre  nos concedendo  varias  oportunidades  para que possamos nos redimir  de nossos  erros, através da  reencarnação.
Bendita reencarnação que permite ser  o mal reparado, o bem restabelecido, o espirito reerguido, a experiência aprimorada e o aprendizado realizado! Bendita reencarnação que permite ao espirito delituoso encontrar o caminho do bem, abrandar seus sentimentos e conquistar, seja pelo amor ou pela  dor, sua alforria  dos erros cometidos! Bendita reencarnação que restabelece o equilíbrio onde houve desequilíbrio, que enxuga lágrimas onde foi provocado o pranto, que levanta o caído pelo esforço na redenção do espirito imortal, que aniquila as trevas e nos devolve  a luz da verdade! Bendita reencarnação que, como instrumento da justiça do Pai Eterno, não pune ninguém, não condena ninguém irremediavelmente ao fogo eterno, mas oferece tantas oportunidades quantas forem necessárias aos  filhos que  se perdem na noite dos séculos para que encontrem novamente o caminho da casa paterna! Bendita reencarnação que devolve ao espirito infrator a oportunidade do doloroso resgate a pedido do próprio interessado e nos traz a fé raciocinada pelo conhecimento da verdade, que em tudo manifesta a bondade infinita do Criador, trazendo-nos a certeza inabalável que , mesmo diante da mais terrível tragédia, não existe punição, mas simplesmente a oportunidade do espirito que pediu para si mesmo o resgate doloroso mas  libertador.
Deus é a inteligência suprema do Universo e a causa primária de todas as coisas, esclareceram-nos nossos irmãos maiores na primeira pergunta do Livro dos  Espíritos, codificado por  Kardec. Deus é sumamente bom e justo e, por essa razão, não castiga nenhum filho seu, mas também não distribui privilégios a quem quer  que  seja. Tudo ´é uma conquista do espirito imortal, que  caminha pelos próprios pés, seja pelo amor ou pela  dor, muitas vezes  amparado por queridos amigos de tantas  existências.

Texto baseado e tirado  do livro” Filho Prodigo”- de Antonio Demarchi

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A JUSTIÇA DE DEUS

….. Porque existem pessoas  boas  e  más?Porque encontramos no mundo pessoas santificadas, desprendidas, que se mobilizam em favor do amor  e da caridade  em nome do Cristo, ao lado de celerados e criaturas  insensíveis?Porque existem pessoas  boas  que sofrem , enquanto outros , voltadas  a brutalidade e à  maldade,tudo corre bem?Porque  alguns  são infelizes enquanto outros são afortunados?Porque alguns  nascem portadores de doenças congênitas,prostrados no leito de dor por uma existência completa,enquanto outros são privilegiados com físico e beleza de Apolo?Porque alguns possuem a riqueza material,nascendo em berço de ouro,enquanto outros nascem em favelas?Porque existem criaturas que provocam tragédias,enquanto outros vivem na pele o sofrimento da tragédia?Porque existem pessoas que demonstram facilidade para a matemática,outras para a música,outras para a pintura, outras para a medicina,enquanto existem aquelas que não conseguem elucidar a equação algébrica mais simples de A+B=C.
As questões são muitas e fervilham na mente  de muitas  pessoas.Entretanto, a razão diz que não existe causa sem efeito, nem efeito sem causa.Toda ação que praticamos provoca uma reação e,portanto, se a ação praticada for positiva, a reação será igualmente positiva, da mesma forma que uma ação maldosa retornará uma reação malévola ao seu autor,agregada às aderências negativas provenientes do mal sintonizado naquela ação.
Uma voz silenciosa nos  diz, bem lá dentro de nosso intimo: “tomemos cuidado nos  nossos julgamentos,pois, se Deus é a inteligencia suprema do Universo, a Causa Primária de todas as coisas,é sumamente bom e justo,deve saber o que está fazendo.”Tudo tem que ter um razão lógica para que possamos entender os “porquês”, e normalmente incidimos no  erro ao analisarmos o espirito imortal em sua trajetória em apenas uma existência…….
Este é um assunto extremamente complexo e nos convida  sempre a meditação profunda,pois é exatamente por meio da compreensão dos mecanismos da lei de causa e efeito,ação e reação que o ser  humano observará que Deus é sumamente bom e justo e que  tudo se manifesta de acordo com suas sábias leis e está tudo certo.Quando analisamos determinada situação no exíguo espaço limitado de apenas uma existência, aparentemente poderemos questionar a sabedoria e a misericórdia Divina se desconhecemos a Lei.Entretanto,todos nós somos espíritos que caminhamos milênios sem fim desde  o primórdio das primeiras manifestações  do principio inteligente.Não existem privilégios na Criação, pois todos fomos criados simples e ignorantes com o objetivo de obter a evolução, a ascensão espiritual pela lei do esforço próprio.Nosso destino final é a perfeição,o gozo da glória no seio do Criador.Fomos criados a semelhança do nosso Pai Misericordioso e ,tal qual um pequeno filete de água,prosseguimos em nossa jornada, aprendendo a contornar os obstáculos,crescendo,evoluindo,fertilizando onde passamos, até encontrarmos no destino final o oceano que nos acolhe. Nossa essência é Divina,pois fomos criados por gesto de amor de Deus.Somos uma centelha,uma fagulha cuja origem é o próprio Criador,destinada à evolução por meio das existências múltiplas,das reencarnações sucessivas, das lições e dos aprendizados.Consta no Velho Testamento que “ do  pó viemos e ao pó retornaremos”,mas isso se refere apenas ao corpo perecível. Poderíamos dizer com mais propriedade: de Deus nós viemos e a Deus um dia retornaremos cheios de glória pelas conquistas efetuadas em nossa  jornada evolutiva.Podemos afiançar, sem sombra de duvida, que Deus sabe o que faz,pois criou leis  sábias que permitem tudo alcançar sem que haja privilégios nem injustiça a quem quer que seja.Simplesmente o Senhor é misericordioso em suas  leis e a reencarnação é o instrumento  de  sua  justiça,que  se encarrega de colocar tudo nos devidos lugares,no tempo e lugar certo. A ninguém é pedida cota maior de sacrifício que não possa, nem o  Senhor é impiedoso cobrando dívidas antes que o devedor tenha recursos suficientes para o pagamento.
A verdade é que  somos espíritos  milenares e já vivenciamos um sem  - numero  de existências e nada ´podemos reclamar,pois o Senhor nos dá oportunidades renovadas a cada encarnação.Dessa forma,não podemos jamais  nos queixar,porque ja fomos abastados,poderosos já fomos usufrutuários dos bens terrenos e detivemos poder de mando,e com certeza erramos muito. Entretanto,também já sofremos com a pobreza,com a miséria e com as dificuldades de toda sorte. A maioria de nós se esquece   de que  na vida nada temos, tudo é um empréstimo que  o Pai da Vida nos concede,e,na qualidade  de usufrutuários administramos mal o patrimônio que nos é confiado,inclusive a própria  vida e a saúde física. Normalmente somos perdulários e mal administradores,levando a ruína os  “ talentos” que Deus nos confiou,mas chega um dia em que temos que prestar contas de nossas atitudes.É interessante observar que o espirito,na condição  de Filho de Deus,muitas vezes se revolta contra o próprio Pai e,à semelhança do Filho Pródigo relatado no Evangelho de  Lucas(15:11-32),afasta-se voluntariamente da casa paterna atraído pelos enganos do mundo fugaz.Segue seu destino,buscando tirar  da vida enganosa o máximo que os prazeres possam proporcionar.O Pai Misericordioso dá tempo ao tempo,pois sabe que um dia o filho retorna  à  casa paterna,cansado e desiludido diante das derrotas formidáveis que vivenciou,e então o Pai o acolhe novamente ao seu seio de amor. Isso não significa que o filho perdulário não terá que retornar as tarefas neglicenciadas no pretérito,pois como já dissemos anteriormente,tem o tempo certo para  tudo e o Criador  é  paciente. Depois  , o que  é o tempo para o Senhor dos Tempos?
Cada  um de nós traz em sua bagagem evolutiva uma conquista maravilhosa,que é  o Livre – Arbítrio,isto é, conquistamos o direito de aprender e evoluir pelos próprios passos,fruto do esforço de cada um . Entretanto, o Evangelho nos alerta que aquele que não caminha pelo amor,caminhará  pela  dor. Dessa forma, o espirito tem o direito de escolher entre estugar o passo na caminhada evolutiva,buscando o caminho do auto- aprimoramento, do amor, do esforço,constante e,assim,alcançar  o objetivo com maior  rapidez ou simplesmente retardar os passos buscando outros caminhos por atalhos tortuosos,que demandam precioso tempo nas trevas do sofrimento por  vontade própria. Verificamos exemplos de espíritos que, investidos do poder temporal,acobertados ,sob a túnica sacerdotal,sob o respeitável teto da casa que deveria servir ao Senhor,perpetraram crimes hediondos, prenderam, perseguiram, brutalizaram,mataram e destruíram vidas de forma ignominiosa,tudo em nome de Deus.Criaturas que sob o poder do clero,praticaram horrores inenarráveis  e inconcebíveis com o pretexto de defender a Deus e de combater heresias. Criaturas inteligentes e conhecedoras do  Evangelho que agiram com requintes  de brutalidade e insensibilidade por permitir que o poder exarcebado lhe tolhesse a razão,perdendo completamente o juízo e a noção de que eram humanos e de que também cometiam erros. Agiram com rigor e ódio em nome de Deus,na vã ilusão de que eram representantes infalíveis da verdade e que lhes era facultado estar acima do bem e do mal,fazendo e desfazendo,pois agiam em nome  de Deus.Muitas destas criaturas esperavam que , após a passagem para  o lado de cá ( o esperado céu) desalojados do corpo físico perecível,fossem recebidos com glórias,tendo garantido seu lugar  no paraíso. Muitos,quando tomaram conhecimento da  dura  realidade  e  da extensão dos erros praticados,não tiveram a humildade de reconhecer o engano e pedir oportunidade de recomeçarem as lições em busca de forças  para reparar o mal praticado quando estivessem em condições;ao contrário,revoltaram-se. A revolta era uma forma de fugirem dos dolorosos compromissos assumidos, colocando-se nas condições de filhos rebeldes que há séculos procuram combater as forças  bem, como filhos pródigos que abandonaram a casa paterna por terem agido de forma inconsequente e irresponsável. Esquecem-se  de que  o Senhor é Eterno e sabe esperar.Cedo ou tarde,seus filhos, cansados dos próprios desmandos e da condição de fugitivos de si mesmo, retornam um a um  ao seio paterno.Não poderão negar indefinidamente  que também  são parte da Centelha Divina que dormita na inconsciência da própria essência e principio inteligente.

Texto tirado do livro  O Filho Pródigo de Antonio Dermachi.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A nossa Etica enquanto involuidos que somos -parte 2

Quando o mandamento de Deus diz: "'não matar", quer dizer: "nunca matar ninguém". Mas quando este mandamento desce na terra, na qual é o melhor quem sabe eliminar maior número de inimigos em seu favor, então aquele mandamento se quiser subsistir em tal ambiente, deve deixar algum lugar à lei desse ambiente, e transformar-se, adaptando-se a ele. Na prática, desse modo, o mandamento vem a exprimir-se assim: "não me mates e ajuda-me a matar os meus inimigos". De fato, foi nesse sentido que Moisés não pôde deixar de entender e aplicar aquele mandamento, logo que desceu do monte e encontrou-se frente à realidade da vida. Foi uma espécie de necessidade moral e também espiritual, porque, diversamente  a idolatria sairia vencedora.
Posteriormente, com o desenvolvimento da evolução, a lei do Sistema, fazendo pressão, tornar-se­-á cada vez mais atuável, até os tempos modernos em que se chega quase a condenação das guerras, coisa inconcebível aos tempos de Moisés. Mas foi daquele modo que então se chegou, certamente não por culpa dele, mas da dominante psicologia involuída  a esta conclusão estranha: que, para defender a lei de Deus, foi preciso deixar de aplicá-la. Para tornar válido o mandamento de "não matar", para tornar possível transmiti-lo a outras gerações que, depois, o pudessem aplicar, se fez necessário violá-lo primeiro, matando uma porção de gente.
Assim desde que apareceu pela primeira vez, a lei ética, deve levar em conta a realidade do mundo  A primeira coisa que Moisés teve de demonstrar com fatos ao descer do Sinai foi a inaplicabilidade imediata da lei que proclamara. Para fazê-la descer ao plano humano, para depois educar o homem ensinando -lhe a aplicá-la, Moisés teve, inicialmente, de cair numa contradição, que permanecerá através dos séculos: a de que para poder aplicar a lei que proíbe a força, se usa a força. Para aplicar a lei, se faz justamente o que ela proíbe. Não, é o legislador moralista que mostra a aplicabilidade da lei seguindo-a ele mesmo, em primeiro lugar, e educando com o exemplo. É ele próprio, inicialmente, que prova a inaplicabilidade dela com o fato de não aplicá-la a si quando, exigindo obediência, afirma, com os fatos, o princípio oposto ao da obediência determinada pela lei, isto é, o princípio do próprio mando. Eis aquilo que na ética deve tornar-se, quando desce em um mundo onde o problema fundamental sempre presente é de ser o mais forte e de, assim, impor-se para não ser devorado. Desse modo é que encontramos na Terra uma ética de contradições, pela qual a lei parece dever valer só para os sujeitos que devem ser educados, e não para os educadores, que não ficam obrigados a aplicá-la, embora devessem ser os primeiros a fazê-lo. É uma ética de contradição, porquanto, determinando obediência pratica a dominação. É uma ética de coação, que impõe a ordem pela força das sanções, isto é, faz a paz usando a guerra, quer atingir a não reação usando a reação.
É assim que a ética ensina a não matar, matando; a renunciar, mantendo a posse; a obedecer mandando. O próprio moralista está imerso no plano humano, não consegue colocar-se acima de seus dependentes e com estes, mesmo em nome de altos princípios éticos, desce para a luta no mesmo nível.
Somente Cristo permaneceu em Seu plano mais alto. Somente Cristo praticou a não reação pregada pela ética: Ele não desceu para pactuar com o mundo estabelecendo compromissos. Por isso, porque ele não quis usar a força, o mundo, usando a força, o matou. Se puderam sobreviver, as outras autoridades que se dizem baseadas na ética  foi porque diante da moral pura de Cristo, elas representam uma posição híbrida de comprometimento. Assim, assistimos na Terra ao estranhíssimo espetáculo através do qual, em nome da ética, se proíbe a reação punitiva individual  permitindo-se somente a da autoridade. Esta diz ao indivíduo: "Não usarás mais a violência para defender teus interesses; só eu posso usa-la para defender os meus. Eu, porque sou o chefe, o que venceu como mais forte nego a ti o direito de matar por teus próprios objetivos para usá-lo somente pelos meus fins". Na verdade, o que cada governo faz, lo­go de inicio, é desarmar o cidadão, reprimindo-lhe a violência, para armá-lo contra os próprios inimigos, premiando-lhe com honras a mesma violência.
Na prática, a ética reduz-se a um arrancamento de poderes da massa para poucos dirigentes, fato que se justificaria se feito com finalidades educativas ou para o bem da coletividade, o que nem sempre se verifica, já que, ás vezes, tais poderes po­dem ser usados pelos dirigentes só como vantagem pessoal. Assim a ética constitui a primeira violação de si mesma, porque os homens que a representam, na prática, fazem exatamente o que ela proíbe. Desse modo, os princípios permanecem como teoria e fica no plano humano o fato de que, sobrepondo-se força a força, não se alcança justiça. Enquanto se aceitarem os métodos do mundo, isso não pode ser superado.
 Destarte, quisemos somente explicar o estado de contradição em que se encontra a moral humana, contradição que pode parecer mentira, mas nem sempre é desejada com tal propósito. Ela pode ser aceita com uma necessidade transitória, de adaptação dos princípios superiores às exigências de um mundo inferior  onde também eles devem aplicar-se. De qualquer modo, esta contradição é fatalmente destinada a desaparecer com o progresso evolutivo, destinada a ser corrigida quando os princípios da ética vierem a ser verdadeiramente aplicados em favor da educação do homem, ensinando-lhe a viver num plano de vida mais alto.

A nossa Ética enquanto involuidos que somos

Texto tirado do livro "A Grande Batalha" de Pietro Ubaldi , que nos mostra  uma  visão de como o se humano age  com relação a si e  aos  outros , na aplicação de sua ética de uma forma  egoísta . Um texto para  refletirmos  e estudarmos :


"O fato de nosso mundo ser regido pela lei da luta pela seleção do mais forte, prova que está situado ainda no plano animal-humano do involuído. Esse mundo baseia-se no princípio do egocentrismo indivi­dualista que conduz do estado inorgânico, funcionando com o método da rebelião. Isto não é um erro da vida, mas uma qualidade deste seu nível de evolução. A vida quer, antes de mais nada, viver, qualquer seja o seu plano de desenvolvimento alcançado. Alcança, assim, esta sua finalidade, fundamental, porque não poderia diversamente alcançar nenhum de todos seus outros fins; alcança aquela com os recursos que possui aquele plano do involuído, salvo alcança-la diferentemente em planos mais elevados, onde pode utilizar os meios mais aperfeiçoados conquistados pelo ser naqueles planos mais elevados. A vida, desse modo, alcança a sua primeira finalidade, a de viver, com garras e presas no plano animal, com a força e a astúcia no plano humano, com a coordenação dos indivíduos num organismo coletivo, no plano do evolvido. Os métodos e os resultados são proporcionais ao estado de evolução, isto é, de compreensão e inteligência alcançada.

Explica-se desse modo como a vida aceita no plano do involuído o estado de revolta egoísta, uma vez que, nesse plano, este é legitimado por representar um ato de defesa da própria vida. Dada a conformação do ambiente, se o animal não possuísse pre­sas e garras, como defenderia sua vida? Se o homem não usasse força e astúcia, como conseguiria sobrevi­ver? Se o evolvido não usa tudo isto é porque não o precisa mais para proteger sua vida; sendo esta, no seu plano, protegida pelos meios civis da organiza­ção social. A vida é lógica. A natureza é lógica. Pa­ra que deveria continuar a usar o método do ataque e da defesa, quando este foi superado e, portanto não há mais necessidade para garantir a vida?

Eis, porém, como o nosso mundo, onde aquele método não foi ainda superado, se explica e justifica o seu uso. E também explica-se como quan­do na terra nasce um evolvido, este venha a ser reprovado. Quando o involuído o vê enquadrar-se es­pontaneamente na ordem, disciplinar-se obedecendo às leis e formar, com isto, o seu valor, uma sua força, o involuído o julga qual um imbecil incapaz de procurar sua própria vantagem. Não conseguem eles compreenderem uma vez que possuem duas menta­lidades completamente diversas.


O evolvido desdenha prostituir inteligência e energias numa luta inútil contra o seu semelhante, seu companheiro de vida, em quem ele enxerga a si mesmo. No seu plano, a ordem é realizada e isto bas­ta para garantir a vida, na forma necessária num pla­no em que a atividade deve ser utilizada em traba­lhos e para conquistas superiores. Para isso é que o seu espontâneo ato de defesa consiste no enquadra­mento na ordem, eis que nesta ordem consiste toda a sua força de indivíduo orgânico.



Para o involuído as coisas são diversas. Se ele abandona por um momento a luta contra o seu semelhante; este o esmaga e o elimina. No seu plano ,não existe ninguém que garanta a sua vida e ele tem que a garantir por si mesmo. Se não sabe defender-se ninguém o defende, uma vez que cada qual tem a sua luta e não pode pôr a seu cargo a luta dos outros. A inteligência e as energias devem ser usadas primeiramente para esse fim, o mais urgente; aquele que as use para outras finalidades é julgado um sonhador, vivente fora da realidade. O enqua­dramento na ordem, como método de defesa, adota­do pelo evolvido, nesse outro plano do involuído não tem sentido, uma vez que uma ordem verdadeira não existe, aparecendo apenas algumas tentativas de es­boço. O mundo não possui ainda, senão alguns gru­pos egocêntricos e imperialistas, constituídos em tor­no dos mais fortes, que os usam, antes de mais nada, para si, ou em função de interesses de grupo. Tudo isto não serve para garantir a vida, mas para organi­zar a luta em maior escala. Aceitar uma tal ordem significa tornar-se servos de um determinado chefe, que, por ser o mais forte, construiu a sua ordem para si. Nesse plano de evolução, o poder, em geral, é su­portado como um peso, enquanto é exercido como uma vantagem por quem o possui. De fato, na terra, com o sistema representativo, as massas procuram defender-se contra a opressão naturalmente existente no poder absoluto. É assim que o cidadão moder­no, começando a evolver, procura defender-se con­tra um poder que tem sua origem histórica no estado de opressão que o mais forte acreditava ser seu di­reito exercer sobre os mais débeis que havia conse­guido subjugar. Estamos no plano do involuído e, enquanto assim ficarmos, toda forma de vida não po­derá deixar de manifestar-se a não ser com o sistema da luta, característica deste plano.

Como é possível pretender da vida que seja dado ao involuído o instinto da obediência quando esta não lhe traz vantagem alguma? Preferirá, por isso, a rebelião, quando esta lhe for mais útil para a vida. Exigir que esta ande contra a própria conser­vação, constitui absurdo biológico, admissível somen­te na mente do primitivo ignorante, desconhecedor das leis da vida e que acredita possível impor-se tam­bém a esta. De outro lado, é lógico que a vida dê ao evolvido o instinto da obediência, quando existe uma ordem, e o disciplinar-se traga vantagem.

Na oposição entre os dois diversos mundos, podem formar-se julgamentos diferentes, conforme se trate do involuído que, do baixo ao alto, julga o mun­do do evolvido, ou trate-se do evolvido que julga do alto, o mundo baixo do involuído. Para o involuído, aquele que se submete por motivo de ordem e de dis­ciplina, não é um virtuoso, mas um covarde que acei­ta a servidão, é um vencido merecedor de desprezo. Teórica e oficialmente a palavra de ordem é diversa, mas isto não evita que a substância dos instintos humanos seja esta. Para estes o que conta é o homem forte, capaz de rebelar-se, impor-se, dominar, vencer. Alcançar o sucesso é á que é apreciado. Quem ven­ce tem razão pelo fato de haver provado que sabe vencer.

Na história, a vitória legitima tudo, porque é o vencedor o construtor da verdade, naturalmente sempre para sua vantagem e glória. Quando estes são os instintos e os métodos, todos endereçados à exalta­ção do mais forte e à aniquilação do bom e do hones­to, o que é possível esperar desse mundo senão um estado de insegurança e de luta contínua? E não depende tudo, como havíamos dito, da forma mental do­minante? Tudo decorre de nossos instintos e de nossa atuação conforme a psicologia correlata.

A obediência, a disciplina, para o involuído e o evolvido, possuem significados de todo diversos. Para o primeiro representa um dano, para o segundo uma vantagem. O primeiro procura ser obedecido, o outro, obedecer. Para o involuído o homem ideal é aquele que, em qualquer campo, consegue submeter os outros a si, aquele que os outros menos conseguem dominar. Eis porque, quanto mais involuídos, tanto mais consideram valoroso o rebelar-se à ordem. Por que, em alguns países, ainda está em uso a blasfêmia  É uma prova de coragem que se pretende alardear  desafiando até a Divindade, é um descaramento da coragem. Onde esta é admirada, admira-se também a revolta, como prova de força. Como é possível pretender, nesse mundo, não busquem as religiões sua sustentação no terror da punição? Com tal instinto de revolta, se Deus não, fosse apresentado como poderoso e vingativo, os homens se pudessem  o devorariam.

É assim que se explica a psicologia da antiga religião mosaica, apresentando um Deus modelado sobre a mentalidade do involuído a quem era destinado  E, então, o homem o era muito mais que hoje  Devia, pois, ser proporcionada a ele a imagem de um Deus que falasse conforme a psicologia dominante  já que, de outra forma não seria compreendido, nem respeitado. Eis um Deus ciumento de todos os outros deuses, bem armado de punição para, conse­guir obediência. Eis um Deus, cuja primeira qualida­de é a força sem a qual ninguém o teria temido. Ainda hoje o Cristianismo é forçado a buscar apoio nos terrores do inferno, sem o que não seria ouvido por muitos. Nas naturezas inferiores o temor é percebido muito mais do que o amor. Os governos absolutistas e terroristas, de fato, são possíveis somente nos povos menos civilizados.

Quando Moisés desceu do Sinai e encontrou o seu povo adorando o Bezerro de Ouro, conforme relata a Bíblia, o seu furor, em que expressou a ira de Deus, foi tremendo, e por isso Moisés, chamando a si, a parte do povo permanecida fiel ,ordenou-lhe, em nome de Deus, matassem todos os infiéis: "Cada um cinja a sua espada sobre a coxa. Passai e tornai a passar de porta em porta pelo meio do arraial, e cada um mate a seu irmão, e cada um a seu companheiro  e cada um a seu vizinho. Fizeram os filhos de Le­vi conforme a palavra de Moisés; e caíram do povo naquele dia quase três mil homens".
Se a Bíblia, na sua singeleza, parece não aperceber-se da terrível contradição, isto não nos exime do dever de procurar compreender as razões do fato. Pense-se bem: aquela carnificina, Moisés a determinou em nome de Deus, para sustentar aquela lei que a Bíblia declara ter sido escrita pelo próprio dedo de Deus no monte Sinal, lei que, em um dos seus mandamentos fundamentais, determina: "não matar". Aqui não procuramos condenar, mas, apenas,  explicarmos um fato acontecido e que apanharia Moisés em plena contradição. Como pode ter-se verificado isto e que forças obrigaram Moisés a tão flagrante contraste consigo mesmo, coisa que não é possível admitir fosse deliberadamente querida por ele?
O que obrigou Moisés a agir de maneira oposta a que determinava a lei por ele trazida, foi, sem dúvida, a forma mental própria dos homens pelos quais aquela lei devia ser aplicada O escopo daquela lei era o de ensinar. Ora, não é possível ensinar a um involuído, pretendendo que ele aprenda o que deve aprender, apenas com demonstrações, exortações, apelando para uma inteligência ou bondade que ele não possui ainda. Neste caso infelizmente  há apenas um sistema: o de deixar que o violador da lei sofra o dano resultante de seu erro. Isto pelo fato de que, naquele nível de evolução, se pode aprender somente à  própria custa. Se a finalidade a ser alcançada é, de modo absoluto, a de que o indivíduo aprenda, não se pode  evitar de o deixar pagar, em forma de sofrimento, o respectivo custo.
Tão somente assim é que se consegue explicar uma outra contradição semelhante, isto é, aquela de que um Deus infinitamente bom e que nos ama irrestritamente, parece encontrar-se em pleno contraste com aquelas suas qualidades quando verificamos que Ele nos deixa sofrer desapiedadamente. Quando observamos que, nem sempre, desse modo o homem aprende, força a concluir que, garantidamente e por sempre, nada aprenderia se nem tivesse que suportar as consequências dos próprios erros. A causa  pois, desse procedimento, que parece absurdo, não esta na contradição de Deus, mas na forma mental da criatura, que é a que, quando se queira alcançar o seu bem, impõe esse método. Assim é, para o bem da criatura, a qual compreende apenas a linguagem dura da dor, que Deus é obrigado a tornar-se desapiedado. Não é possível fazer de outro modo quando, respeitando-lhe a liberdade, se quer salvar um ser que não sabe agir senão com a forma mental do rebelde que faz consistir todo o seu valor na força para rebelar-se contra a lei, e não na inteligência para obedecer. A causa da dor, por isso, não está em Deus, o que é inadmissível, mas está nesta errada psicologia e conduta do ser.


Bastaria compreender isto para poder eliminar  com essa psicologia, também a dor que dela deriva  Mas, infelizmente, é exatamente aquela psicologia de egoísmo e de revolta o que impede que nós mesmos não sejamos a causa primeira do mal. E, desse modo, a dor permanece. Mas é lógico, outro sim, que, alcançada, por evolução, uma outra forma mental em planos de vida elevados, a dor desapareça, não tendo mais que cumprir os anteriores fins educativos  que são sua única explicação e justificação no seio do amor, bondade e justiça de Deus. Absurdo e blasfêmia seria o admitir haja sido Deus o construtor das cadeias da dor e que a elas devamos permanecer sempre amarrados. Estas cadeias são devidas ao estado de involução e devem desaparecer com a evolução  cuja tarefa é precisamente a de tudo corrigir e sanear, reconduzindo-nos à perfeição do sistema. A dor existe para eliminar a si mesma."