terça-feira, 4 de junho de 2013

A nossa Ética enquanto involuidos que somos

Texto tirado do livro "A Grande Batalha" de Pietro Ubaldi , que nos mostra  uma  visão de como o se humano age  com relação a si e  aos  outros , na aplicação de sua ética de uma forma  egoísta . Um texto para  refletirmos  e estudarmos :


"O fato de nosso mundo ser regido pela lei da luta pela seleção do mais forte, prova que está situado ainda no plano animal-humano do involuído. Esse mundo baseia-se no princípio do egocentrismo indivi­dualista que conduz do estado inorgânico, funcionando com o método da rebelião. Isto não é um erro da vida, mas uma qualidade deste seu nível de evolução. A vida quer, antes de mais nada, viver, qualquer seja o seu plano de desenvolvimento alcançado. Alcança, assim, esta sua finalidade, fundamental, porque não poderia diversamente alcançar nenhum de todos seus outros fins; alcança aquela com os recursos que possui aquele plano do involuído, salvo alcança-la diferentemente em planos mais elevados, onde pode utilizar os meios mais aperfeiçoados conquistados pelo ser naqueles planos mais elevados. A vida, desse modo, alcança a sua primeira finalidade, a de viver, com garras e presas no plano animal, com a força e a astúcia no plano humano, com a coordenação dos indivíduos num organismo coletivo, no plano do evolvido. Os métodos e os resultados são proporcionais ao estado de evolução, isto é, de compreensão e inteligência alcançada.

Explica-se desse modo como a vida aceita no plano do involuído o estado de revolta egoísta, uma vez que, nesse plano, este é legitimado por representar um ato de defesa da própria vida. Dada a conformação do ambiente, se o animal não possuísse pre­sas e garras, como defenderia sua vida? Se o homem não usasse força e astúcia, como conseguiria sobrevi­ver? Se o evolvido não usa tudo isto é porque não o precisa mais para proteger sua vida; sendo esta, no seu plano, protegida pelos meios civis da organiza­ção social. A vida é lógica. A natureza é lógica. Pa­ra que deveria continuar a usar o método do ataque e da defesa, quando este foi superado e, portanto não há mais necessidade para garantir a vida?

Eis, porém, como o nosso mundo, onde aquele método não foi ainda superado, se explica e justifica o seu uso. E também explica-se como quan­do na terra nasce um evolvido, este venha a ser reprovado. Quando o involuído o vê enquadrar-se es­pontaneamente na ordem, disciplinar-se obedecendo às leis e formar, com isto, o seu valor, uma sua força, o involuído o julga qual um imbecil incapaz de procurar sua própria vantagem. Não conseguem eles compreenderem uma vez que possuem duas menta­lidades completamente diversas.


O evolvido desdenha prostituir inteligência e energias numa luta inútil contra o seu semelhante, seu companheiro de vida, em quem ele enxerga a si mesmo. No seu plano, a ordem é realizada e isto bas­ta para garantir a vida, na forma necessária num pla­no em que a atividade deve ser utilizada em traba­lhos e para conquistas superiores. Para isso é que o seu espontâneo ato de defesa consiste no enquadra­mento na ordem, eis que nesta ordem consiste toda a sua força de indivíduo orgânico.



Para o involuído as coisas são diversas. Se ele abandona por um momento a luta contra o seu semelhante; este o esmaga e o elimina. No seu plano ,não existe ninguém que garanta a sua vida e ele tem que a garantir por si mesmo. Se não sabe defender-se ninguém o defende, uma vez que cada qual tem a sua luta e não pode pôr a seu cargo a luta dos outros. A inteligência e as energias devem ser usadas primeiramente para esse fim, o mais urgente; aquele que as use para outras finalidades é julgado um sonhador, vivente fora da realidade. O enqua­dramento na ordem, como método de defesa, adota­do pelo evolvido, nesse outro plano do involuído não tem sentido, uma vez que uma ordem verdadeira não existe, aparecendo apenas algumas tentativas de es­boço. O mundo não possui ainda, senão alguns gru­pos egocêntricos e imperialistas, constituídos em tor­no dos mais fortes, que os usam, antes de mais nada, para si, ou em função de interesses de grupo. Tudo isto não serve para garantir a vida, mas para organi­zar a luta em maior escala. Aceitar uma tal ordem significa tornar-se servos de um determinado chefe, que, por ser o mais forte, construiu a sua ordem para si. Nesse plano de evolução, o poder, em geral, é su­portado como um peso, enquanto é exercido como uma vantagem por quem o possui. De fato, na terra, com o sistema representativo, as massas procuram defender-se contra a opressão naturalmente existente no poder absoluto. É assim que o cidadão moder­no, começando a evolver, procura defender-se con­tra um poder que tem sua origem histórica no estado de opressão que o mais forte acreditava ser seu di­reito exercer sobre os mais débeis que havia conse­guido subjugar. Estamos no plano do involuído e, enquanto assim ficarmos, toda forma de vida não po­derá deixar de manifestar-se a não ser com o sistema da luta, característica deste plano.

Como é possível pretender da vida que seja dado ao involuído o instinto da obediência quando esta não lhe traz vantagem alguma? Preferirá, por isso, a rebelião, quando esta lhe for mais útil para a vida. Exigir que esta ande contra a própria conser­vação, constitui absurdo biológico, admissível somen­te na mente do primitivo ignorante, desconhecedor das leis da vida e que acredita possível impor-se tam­bém a esta. De outro lado, é lógico que a vida dê ao evolvido o instinto da obediência, quando existe uma ordem, e o disciplinar-se traga vantagem.

Na oposição entre os dois diversos mundos, podem formar-se julgamentos diferentes, conforme se trate do involuído que, do baixo ao alto, julga o mun­do do evolvido, ou trate-se do evolvido que julga do alto, o mundo baixo do involuído. Para o involuído, aquele que se submete por motivo de ordem e de dis­ciplina, não é um virtuoso, mas um covarde que acei­ta a servidão, é um vencido merecedor de desprezo. Teórica e oficialmente a palavra de ordem é diversa, mas isto não evita que a substância dos instintos humanos seja esta. Para estes o que conta é o homem forte, capaz de rebelar-se, impor-se, dominar, vencer. Alcançar o sucesso é á que é apreciado. Quem ven­ce tem razão pelo fato de haver provado que sabe vencer.

Na história, a vitória legitima tudo, porque é o vencedor o construtor da verdade, naturalmente sempre para sua vantagem e glória. Quando estes são os instintos e os métodos, todos endereçados à exalta­ção do mais forte e à aniquilação do bom e do hones­to, o que é possível esperar desse mundo senão um estado de insegurança e de luta contínua? E não depende tudo, como havíamos dito, da forma mental do­minante? Tudo decorre de nossos instintos e de nossa atuação conforme a psicologia correlata.

A obediência, a disciplina, para o involuído e o evolvido, possuem significados de todo diversos. Para o primeiro representa um dano, para o segundo uma vantagem. O primeiro procura ser obedecido, o outro, obedecer. Para o involuído o homem ideal é aquele que, em qualquer campo, consegue submeter os outros a si, aquele que os outros menos conseguem dominar. Eis porque, quanto mais involuídos, tanto mais consideram valoroso o rebelar-se à ordem. Por que, em alguns países, ainda está em uso a blasfêmia  É uma prova de coragem que se pretende alardear  desafiando até a Divindade, é um descaramento da coragem. Onde esta é admirada, admira-se também a revolta, como prova de força. Como é possível pretender, nesse mundo, não busquem as religiões sua sustentação no terror da punição? Com tal instinto de revolta, se Deus não, fosse apresentado como poderoso e vingativo, os homens se pudessem  o devorariam.

É assim que se explica a psicologia da antiga religião mosaica, apresentando um Deus modelado sobre a mentalidade do involuído a quem era destinado  E, então, o homem o era muito mais que hoje  Devia, pois, ser proporcionada a ele a imagem de um Deus que falasse conforme a psicologia dominante  já que, de outra forma não seria compreendido, nem respeitado. Eis um Deus ciumento de todos os outros deuses, bem armado de punição para, conse­guir obediência. Eis um Deus, cuja primeira qualida­de é a força sem a qual ninguém o teria temido. Ainda hoje o Cristianismo é forçado a buscar apoio nos terrores do inferno, sem o que não seria ouvido por muitos. Nas naturezas inferiores o temor é percebido muito mais do que o amor. Os governos absolutistas e terroristas, de fato, são possíveis somente nos povos menos civilizados.

Quando Moisés desceu do Sinai e encontrou o seu povo adorando o Bezerro de Ouro, conforme relata a Bíblia, o seu furor, em que expressou a ira de Deus, foi tremendo, e por isso Moisés, chamando a si, a parte do povo permanecida fiel ,ordenou-lhe, em nome de Deus, matassem todos os infiéis: "Cada um cinja a sua espada sobre a coxa. Passai e tornai a passar de porta em porta pelo meio do arraial, e cada um mate a seu irmão, e cada um a seu companheiro  e cada um a seu vizinho. Fizeram os filhos de Le­vi conforme a palavra de Moisés; e caíram do povo naquele dia quase três mil homens".
Se a Bíblia, na sua singeleza, parece não aperceber-se da terrível contradição, isto não nos exime do dever de procurar compreender as razões do fato. Pense-se bem: aquela carnificina, Moisés a determinou em nome de Deus, para sustentar aquela lei que a Bíblia declara ter sido escrita pelo próprio dedo de Deus no monte Sinal, lei que, em um dos seus mandamentos fundamentais, determina: "não matar". Aqui não procuramos condenar, mas, apenas,  explicarmos um fato acontecido e que apanharia Moisés em plena contradição. Como pode ter-se verificado isto e que forças obrigaram Moisés a tão flagrante contraste consigo mesmo, coisa que não é possível admitir fosse deliberadamente querida por ele?
O que obrigou Moisés a agir de maneira oposta a que determinava a lei por ele trazida, foi, sem dúvida, a forma mental própria dos homens pelos quais aquela lei devia ser aplicada O escopo daquela lei era o de ensinar. Ora, não é possível ensinar a um involuído, pretendendo que ele aprenda o que deve aprender, apenas com demonstrações, exortações, apelando para uma inteligência ou bondade que ele não possui ainda. Neste caso infelizmente  há apenas um sistema: o de deixar que o violador da lei sofra o dano resultante de seu erro. Isto pelo fato de que, naquele nível de evolução, se pode aprender somente à  própria custa. Se a finalidade a ser alcançada é, de modo absoluto, a de que o indivíduo aprenda, não se pode  evitar de o deixar pagar, em forma de sofrimento, o respectivo custo.
Tão somente assim é que se consegue explicar uma outra contradição semelhante, isto é, aquela de que um Deus infinitamente bom e que nos ama irrestritamente, parece encontrar-se em pleno contraste com aquelas suas qualidades quando verificamos que Ele nos deixa sofrer desapiedadamente. Quando observamos que, nem sempre, desse modo o homem aprende, força a concluir que, garantidamente e por sempre, nada aprenderia se nem tivesse que suportar as consequências dos próprios erros. A causa  pois, desse procedimento, que parece absurdo, não esta na contradição de Deus, mas na forma mental da criatura, que é a que, quando se queira alcançar o seu bem, impõe esse método. Assim é, para o bem da criatura, a qual compreende apenas a linguagem dura da dor, que Deus é obrigado a tornar-se desapiedado. Não é possível fazer de outro modo quando, respeitando-lhe a liberdade, se quer salvar um ser que não sabe agir senão com a forma mental do rebelde que faz consistir todo o seu valor na força para rebelar-se contra a lei, e não na inteligência para obedecer. A causa da dor, por isso, não está em Deus, o que é inadmissível, mas está nesta errada psicologia e conduta do ser.


Bastaria compreender isto para poder eliminar  com essa psicologia, também a dor que dela deriva  Mas, infelizmente, é exatamente aquela psicologia de egoísmo e de revolta o que impede que nós mesmos não sejamos a causa primeira do mal. E, desse modo, a dor permanece. Mas é lógico, outro sim, que, alcançada, por evolução, uma outra forma mental em planos de vida elevados, a dor desapareça, não tendo mais que cumprir os anteriores fins educativos  que são sua única explicação e justificação no seio do amor, bondade e justiça de Deus. Absurdo e blasfêmia seria o admitir haja sido Deus o construtor das cadeias da dor e que a elas devamos permanecer sempre amarrados. Estas cadeias são devidas ao estado de involução e devem desaparecer com a evolução  cuja tarefa é precisamente a de tudo corrigir e sanear, reconduzindo-nos à perfeição do sistema. A dor existe para eliminar a si mesma."

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